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Antunes da Silva (1921-1997)

Escritor Eborense
90.º Aniversário do seu nascimento

A Câmara Municipal de Évora vem por este singelo meio evocar os 90 anos do nascimento do escritor eborense Armando Antunes da Silva (n. Évora, 31.07.1921 – m. Évora, 21.12.1997), homem que dignificou esta cidade e o Alentejo, pela sua invulgar postura cívica e pela sua obra literária.

Ainda hoje é recordado, entre familiares e amigos, como uma pessoa reservada, que, desde muito jovem, revelou grande dedicação ao trabalho, à escrita e à luta pela democracia e pela liberdade.

Natural da Freguesia de S. Mamede, e filho de António Antunes da Silva e Guilhermina Maria da Silva, Armando Antunes da Silva ainda criança, e mesmo antes de perder a mãe, que faleceu quando ele tinha 12 anos, foi viver com a avó paterna, Rosalina Almaça da Silva, e com duas tias que com esta moravam, apenas tendo saído daquela residência para casar, aos vinte e poucos anos.

Tirou o antigo curso geral de comércio, na Escola Gabriel Pereira, e era descrito como muito estudioso. Segundo uma familiar próxima, que com ele também viveu na casa da avó Rosalina, em miúdo, sempre que via uma palavra desconhecida, anotava-a e depois ia à biblioteca ver o seu significado.

Terminados os estudos, em meados da década de 30 do século passado, e durante cerca de dez anos, Antunes da Silva trabalhou num escritório e depois na seguradora Ultramarina. Membro do MUD Juvenil, as acusações que o regime salazarista fez pender sobre ele levaram ao seu despedimento e detenção na prisão de Caxias, no ano de 1948.

Entretanto, Antunes da Silva cedo começou a usar a escrita, literária e jornalística, para combater as injustiças do regime ditatorial português de então e para defender os interesses do povo alentejano, em especial dos trabalhadores rurais, e o desenvolvimento da agricultura e do progresso desta região, declarando-se abertamente a favor da construção da Barragem de Alqueva.

A sua militância pela causa democrática valeu-lhe na década de 60 a proibição da impressão e da divulgação dos seus versos por autoridades eborenses.

Com uma carreira jornalística iniciada em 1940 no jornal Democracia do Sul, Antunes da Silva prolonga esta atividade por quase toda a sua vida, colaborando regularmente neste e noutros jornais, como o Diário de Lisboa; Diário Popular; República; Diário de Notícias; Diário do Alentejo; Comércio do Porto, em que foi substituir José Régio após o falecimento deste, e Notícias da Beira, periódico moçambicano. Assinou também artigos nas revistas Colóquio, Vértice e Seara Nova.

Aquando da sua permanência no estabelecimento prisional de Caxias, o escritor eborense entra em contacto com outros resistentes ao regime de Salazar, tornando-se amigo de alguns deles, nomeadamente, Mário Soares, Júlio Pomar, Rui Grácio, Ramon de la Féria, Pulido Valente, Nuno Fidelino de Figueiredo, Caldeira Rodrigues e Mário Ruivo. E, apesar de nunca ter chegado a ser julgado pelas suas atividades políticas, Antunes da Silva várias vezes compareceu em Tribunal, como testemunha de defesa de cidadãos antifascistas em processos instaurados pela PIDE.

Ao casar, Antunes da Silva mudou-se para uma casa na Travessa das Amas do Cardeal, mas, ao ser despedido, pelos motivos já mencionados, e após a sua saída da prisão de Caxias, emprega-se na CEL-CAT – Fábrica Nacional de Condutores Eléctricos, onde trabalhou mais de 40 anos, morando primeiro na Damaia e depois em Benfica.

A sua produção literária ganha entretanto grande alcance e reconhecimento e o seu romance Suão, considerado um dos mais fiéis exemplos do movimento neo-realista em que o autor se inscrevia, vence, no ano seguinte à sua publicação 1961, o Prémio dos Leitores, uma iniciativa do Diário de Lisboa.

Em paralelo, Antunes da Silva tem uma participação ativa na vida política. Em 1969 é candidato da CDE na Oposição Democrática, pelo Distrito de Évora, e em 1979 candidata-se pelo MDO/CDE às eleições intercalares para a Assembleia da República pela coligação eleitoral APU, pelo Distrito de Setúbal. Três anos antes, porém, começa a dirigir o semanário Notícias do Sul, de Évora.

A morte inesperada do seu único filho, com 36 anos de idade, em 1981, surpreende o escritor e antecede, apenas em 4 anos, também o falecimento da sua esposa, no ano de 1985, após o que a vontade de regressar para Évora domina o espírito do escritor, tendo tal vindo a acontecer ao contrair novo matrimónio com uma cidadã residente em Évora, em 1986.

Um conjunto de oito textos publicados no Notícias de Évora e no Diário de Lisboa, sobre o vinho alentejano e sobre a Barragem de Alqueva, valeu a Antunes da Silva em 1987 a atribuição do Prémio Alentejano de Jornalismo.

No ano de 1991 o escritor foi mandatário do PS em Évora e recebeu, a 29 de Junho, a Medalha de Mérito Municipal da Câmara de Évora, como louvor pela sua conduta cívica e pela sua obra literária. No ano seguinte, é ainda alvo de outra grandiosa homenagem, sendo galardoado com o grau de comendador da Ordem do infante D. Henrique, por Mário Soares, no dia 10 de Junho.

Além destas, foi também agraciado em vida com outras homenagens e distinções, por parte de várias entidades, em Portugal e no estrangeiro.

A 21 de Dezembro de 1997 Antunes da Silva morre, sendo enterrado no Cemitério do Espinheiro, ao lado de Túlio Espanca, deixando uma vasta herança literária, cujos textos estão presentes em compêndios escolares e em antologias nacionais e estrangeiras. Algumas das suas obras, estão traduzidas em várias línguas e muitos poemas seus estão musicados e cantados por vários cantores portugueses.

BREVE BIBLIOGRAFIA
Conto, novela, crónica

Publicado a: 11-05-2012 10:05